segunda-feira, 20 de julho de 2015

"A poesia tem um papel histórico"

Seg, 20/07/2015 às 07:32

Kátia Borges
O “Pena de Aço” João Carlos Teixeira Gomes está escrevendo uma autobiografia - Foto: Fernando Vivas | Ag. A TARDEFernando Vivas | Ag. A TARDE
  • O “Pena de Aço” João Carlos Teixeira Gomes está escrevendo uma autobiografia
O título será A brava travessia, e os primeiros parágrafos já começaram a ser escritos. Aos 79 anos, autor de relatos contundentes sobre a vida e a obra  de Camões, Gregório de Mattos e Glauber Rocha, João Carlos Teixeira Gomes pretende dedicar-se agora à sua autobiografia. E com urgência.  Mas não é só a idade que o inquieta. Há também um aneurisma, detectado há alguns meses, de que  fala  como se zombasse respeitosamente. "Pode estourar a qualquer momento", diz. A frase é acompanhada por uma de suas gargalhadas características, a quebrar no ouvinte qualquer vestígio de preocupação ou sisudez.   No espaçoso apartamento em que mora, na Pituba, o "Pena de Aço", essa  lenda do jornalismo e da literatura,  nos conduz ao seu memorial particular. Em todos os cômodos, estantes  e paredes estão  repletos de cartazes, quadros, CDs - "serão doados ao Neojibá" -, DVDs (muitos ainda embalados em plástico), livros e  souvenirs de diversos países. Ali, refaz as forças, pesquisa, pensa. Nesta entrevista, o homem que esteve à frente da renovação da linguagem jornalística baiana, nos anos 50, fala sobre seu livro mais recente,  O labirinto de Orfeu, no qual  volta à poesia.
Em seu novo livro, O labirinto de Orfeu, o senhor oferece ao leitor, a um só tempo, a fruição de 146 sonetos e vasto material reflexivo sobre o fazer poético. O que o leva à poesia em um universo tão violento e conturbado?
É justamente esta agonia do mundo. O materialismo grosseiro que domina o século exige de nós reflexão, sobre a poesia e sobre os caminhos que a humanidade deve seguir. Desde adolescente, e curiosamente, porque  não tinha irmãos e meus pais nunca se interessaram por livros, comecei a me dedicar à criação literária de modo geral. Mas o grande impulso nessa direção veio quando conheci Glauber Rocha no  Central. Ele teve um papel decisivo em minha vida e tenho imensa alegria em registrar isso. É verdade que antes eu já fazia  esboços poéticos. Mas foi só a partir das leituras feitas por ele, do estímulo dado por ele, que decidi me dedicar mais seriamente à literatura.
A poesia teve papel relevante desde sempre na vida e na história, mesmo na guerra e na política, temas aparentemente estranhos ao lirismo. Qual o papel da poesia na contemporaneidade?
É inegável a importância histórica da poesia. No ensaio introdutório de meu livro, após exaustiva pesquisa,  mostro como a vida humana está, desde a sua origem, impregnada de poesia. Mesmo nas sociedades primitivas, rudimentares, tribais, contrariando aquilo que se pensa sobre esta arte, que é refinada, afetada, apenas  para letrados, a poesia sempre fez parte do cotidiano. Na Alemanha, por exemplo, era usada para codificar as leis nas tribos, por ser mais fácil memorizar as leis em versos. Teve papel fundamental na guerra - durante a invasão da Normandia, os aliados antes avisaram aos franceses que iriam iniciar a operação com um poema de Paul Verlaine - e foi uma forma de resistência nos campos de concentração. No livro, cito um poeta polonês que promovia recitais de poesia no Gueto de Varsóvia, que foi a expressão máxima da crueldade nazista, e há poemas criados naquela época, registrados nas paredes  do Museu do Campo de  Auschwitz. Poesia é, sobretudo, resistência.
Em que medida ainda faz sentido falarmos em vanguardas?
As vanguardas sempre irão existir, porque a ânsia de renovação é inerente à natureza do homem. As vanguardas têm um papel importante, mas também podem levar ao extremo, que é o radicalismo e a negação do passado, por acreditar que é a partir dela que o processo literário se instala. Ora, o corpus literário é feito de tudo aquilo que se produziu, que se está produzindo e que se irá produzir, ele é uma caminhada no tempo. É o  retorno eterno da literatura, que volta aos seus temas, aos processos criativos, mas sempre busca, ao mesmo tempo, uma linguagem nova, a transformação das formas, a renovação,  isso se dá em todos os níveis da criação humana.
O senhor é também autor de livros teóricos, biografias e crônicas. Qual espaço a poesia ocupa hoje em sua vida?
Um grande espaço. Eu tenho quatro livros de poesia editados: O ciclo imaginário (Arpoador, 1975), O domador de gafanhotos (Fundação Cultural, 1976), A esfinge contemplada (Nova Fronteira, 1988) e este agora, O labirinto de Orfeu (Topbooks, 2015), que é, na realidade, um mistro de poesia e  ensaios. Tenho também um livro de contos, que considero extremamente importante dentro da minha obra literária e que se chama O telefone dos mortos (Nova Fronteira, 1997). Este livro foi elogiado pelo crítico  literário Wilson Martins (1921-2010), que se referiu aos meus contos como pequenas obras-primas em vários  jornais. E tenho ainda um livro de ensaios e crítica literária de cujo nome gosto bastante, A tempestade engarrafada (EGBA, 1995), no qual abordo, em um dos textos, a poesia da portuguesa Florbela Espanca e da argentina Alfonsina Storni, que escreviam com grande intensidade emocional. Eram  tempestuosas, mas, ao mesmo tempo, escreviam sonetos, que é uma forma fixa e que arruma a emoção, uma forma que  põe a emoção em um recipiente que reprime  o tumulto emocional.
O senhor é biógrafo de Glauber Rocha (Esse vulcão, Nova Fronteira, 1997). Como foi essa relação com o cineasta?
Ah, esse  livro sobre Glauber é um livro essencial, muito importante, porque, como disse desde o início, Glauber foi um querido, um  amigo, um irmão, e convivemos intensamente. A primeira viagem que ele fez para conhecer o Nordeste, para estudar o Nordeste, substância de seus filmes, foi comigo. Nós saímos de Salvador e fomos até Caruaru. Quer dizer, eu não fui, porque sofremos um grave acidente  na estrada, o ônibus ficou devastado, com muitos feridos hospitalizados, e acabei voltando do Recife, enquanto ele, que não se machucou, seguia sozinho. Mas estive presente em praticamente todos os momentos importantes da vida dele, inclusive os mais traumáticos. Esse é um livro insubstituível, porque ninguém  viveu a experiência glauberiana como eu.
Como vê hoje a expressão intelectual no Brasil e especialmente na Bahia?
A Bahia é uma terra rica em todos os níveis ainda hoje. Mas não há como falar sobre a expressão intelectual da Bahia sem citar Jorge Amado,  autor de uma obra maravilhosa, e Dorival Caymmi, que eternizou canções praieiras ainda hoje presentes nas festas populares. Lembro  de uma ocasião em Odessa, na Ucrânia, às cinco da tarde, quando comecei a ouvir uma música familiar. Era Caymmi. Um ensaio de  ginástica artística de jovens ucranianos, mais de 300, ao som da Suíte dos pescadores. Chorei de emoção.
O senhor esteve à frente da renovação da linguagem jornalística baiana. Como foi essa experiência?
Fizemos essa renovação com  Glauber Rocha, e ela foi feita basicamente para concorrer com A TARDE, que era então o único jornal de peso, além do Diário de Notícias, dos Diários Associados. Glauber levou para a redação do Jornal da Bahia, que começa em setembro de 1958,  os seus amigos da Geração Mapa. Fomos eu,  Fernando Rocha, Paulo Gil Soares, Florisvaldo Mattos... E implantamos então na Bahia as técnicas modernas que já estavam em voga no Rio de Janeiro, no Jornal do Brasil e no Última Hora. Adotamos o lead, por exemplo.
O senhor depôs recentemente à Comissão Nacional da Verdade na Bahia. Como o senhor vê as manifestações nas ruas desde junho de 2013 até agora?
São manifestações autênticas de inconformismo. A verdade é que a figura do político está completamente desmoralizada no Brasil, de forma até mesmo perigosa, por conta da ameaça de sistemas de exceção. Sinto que há um desencanto profundo e irreversível, no momento, em relação à política. Por outro lado, penso que nossos políticos são merecedores de todo esse desprezo que está sendo votado a eles. Em meu depoimento, falei sobre a repressão e sobre o risco que corremos hoje de voltar ao jugo de tiranos. E não existe coisa pior nesse mundo que a tirania, sobretudo quando ela quer calar a voz da imprensa e bloquear o pensamento humano. E, o pior, ela é cíclica e pode retornar a qualquer momento.
É preciso então, imagino, resgatar a memória da imprensa baiana em sua dimensão revolucionária.
Sim. E em meu depoimento falei sobre a experiência do Jornal da Bahia, que dirigi e que foi censurado por ser considerado foco de subversão; não era, o jornal apoiava as Reformas de Base. Jango não era um extremista, ele foi levado de roldão pelos extremos da esquerda brasileira. Por isso, penso que é preciso hoje conduzir as coisas  com maior habilidade.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Professor Dilson Lages é eleito para a Academia Piauiense de Letras



O escritor, professor e literata Dilson Lages foi eleito neste sábado (04) para a vaga da cadeira número 21 da Academia Piauiense de Letras. O novo imortal da Academia obteve 26, do total de 34 votos. Ao todo, 39 acadêmicos poderiam votar. Ele ocupa a vaga deixada pelo poeta Hardi Filho, que faleceu no fim de maio deste ano.




O processo de eleição começou às 8h. Alguns acadêmicos que moram fora de Teresina enviaram seus votos pelos Correios. Os demais, que aqui residem, compareceram pessoalmente para depositar o voto na urna. A apuração foi iniciada às 11h, com a contagem total dos votos. 

Em seguida, o presidente da Comissão Eleitoral, desembargador Nildomar da Silveira, com o resultado na mão, repassou ao presidente da APL, Nelson Nery Costa, para que proclamasse o resultado. Só então, através de telefonema, Dilson Lages foi avisado que havia sido o escolhido e foi até a sede da academia receber os cumprimentos.

"Não poderia deixar de expressar o que vai na alma e no coração. A primeira vez que eu estive nessa casa eu era adolescente, movido pelo principalmente pelo imaginário da cidade aonde eu nasci e pela figura sempre generosa do professor A. Tito Filho. Visitei diversas vezes a biblioteca desta casa", disse na presença dos imortais.

Dilson Lages Monteiro é professor, poeta, ficcionista, editor e produtor cultural, nascido a 14 de dezembro de 1973, em Barras. Já possui 12 obras publicadas, entre elas estão "Mais hum", "Cabeceiras – a marcha das mudanças", "Colmeia de concreto", "O sabor dos sentidos", "Adiante dos olhos suspensos" e "O rato da roupa de ouro". É professor licenciado em Letras pela Universidade Estadual do Piauí, com especializações em Língua Portuguesa (PUC-SP) e em Revisão de Textos (PUC-MG), exerce o magistério no Ensino Médio desde 1992, atua como professor de literatura e de leitura e produção de textos na rede particular de ensino desde 1992.

Da redação
redacao@cidadeverde.com


sexta-feira, 3 de julho de 2015

"A poesia é minha maior dependência"

É assim que define sua relação íntima com a literatura a escritora Dayse Kênya de Morais, que, após anos produzindo poemas, lança, amanhã, 1ª obra da carreira

Foto:RUBER COUTO
Rariana Pinheiro,Da editoria DMRevista

O Talhe. Este é o nome do primeiro livro de Dayse Kênya de Morais. É com ele que a experiente autora – mesmo após vencer mais de 30 prêmios de poesia – faz seu début na literatura goiana. E, nesta estreia, ela foi com tudo e mergulhou de vez em um mundo de verbos – impreterivelmente carregados de sentimentos. O resultado foram poemas densos, mas diretos, que serão oficialmente mostrados ao público amanhã, às 20h, no Espaço Sonhus, localizado na área anexa do Colégio Lyceu de Goiânia.

O lançamento vai se dividir em dois momentos e lugares do centro cultural. O primeiro se dará no Teatro do Espaço Sonhus, onde o ator Luciano Caldas irá apresentar uma performance teatral. Em seguida, o público será convidado a seguir para o Café Fornin, no mesmo local, onde irá acontecer a tradicional mesa de autógrafos.

A obra que Dayse Kênya vai mostrar hoje é a compilação de vários poemas, feitos ao longo de sua vida, mas que possuem um ponto em comum: a paixão pelos verbos. Logo, os oito capítulos do livro são nomeados por eles. “A obra é como uma peça dividida em atos. Abrindo com o verbo duvidar e passando pelas fases verbais existenciais e o desfecho no verbo morrer”, explica a poetiza.

A trajetória
Mas, mesmo sendo O Talhe a estreia no mundo das publicações, é possível, com facilidade, avistar uma longa intimidade com o mundo das palavras, não apenas na obra, mas também na história de Dayse, pois ela teve parte da vida dividida pela carreira publicitária, ilustração e, claro, pelos poemas.
No prefácio de O Talhe, feito por Carlos Brandão, se mostra ainda mais clara a relação desta artista com a poesia, lá no final dos anos 80. Com o grupo capitaneado pelo também poeta Pio Vargas, ela sempre podia ser vista “poetando”. “Este era um grupo não oficial (risos). Uma turma de amigos que se reunia, informalmente, pra beber, fazer poesia em guardanapo, sarais, coisas do gênero”, relembra Dayse.

E é também lembrando desta época que Brandão diz, nas orelhas de O Talhe, que a autora chega nesta obra “com o mesmo frescor poético daquela turma, a mesma sensibilidade, a mesma transgressão, alegria e dúvidas” daquela época.
Mesmo com tanta história para contar no mundo das letras – e carregada de prêmios de poesia – a autora, de fato, demorou a lançar uma obra para chamar de sua. E este certo atraso, ela atribui talvez a uma peculiaridade de todo poeta: “acho que demorei a lançar porque não pautei meu fazer poético nas questões práticas que uma publicação exige”, argumenta ela, que agora que começou não pretende parar: “Estou fazendo um romance autobiográfico, que vai se chamar Meu Querido Noitário”, revela ela sobre a próxima obra, ainda sem data de lançamento.

PREMIAÇÕES
1989
3º Lugar em poesia – I Feira Regional de Cultura e Artes de Montes Claros de Goiás
3º Lugar – I Concurso Arisco de poesia falada
1º Lugar– V concurso Wilson Cavalcante de Nogueira
3º lugar– I Concurso Picanha na Brasa de Poesia Falada
1990
1º Lugar– I Concurso Getúlio Vaz de Poesia– Inhumas-GO
Melhor Intérprete– I Concurso Getúlio Vaz de Poesia– Inhumas-GO
Destaque de Inhumas– I Concurso de Getúlio Vaz de Poesia
Melhor texto– Concurso de poesia falada Corujão
3º Lugar– Concurso de Poesia Falada Corujão
3º Lugar– Concurso Charlie Chaplin de Poesia Falada
2º Lugar em Poesia– III FAMA– Monte Alegre de Goiás
2º Lugar em Poesia – IV FAMA– Monte Alegre de Goiás
1992
3º Lugar– Concurso de poesia falada Pio Vargas


1993
1 Lugar– Concurso de Poesia Falada – Casa de Cultura João Bênio
2º Lugar– I Concurso de Poesia Falada– Casa de Cultura João Bênio
Melhor Texto– I Concurso de Poesia Falada– Casa de cultura João Bênio
Participação na Antologia de Concurso Nacional Gilberto Mendonça Teles de Poesia
1º Lugar em Poesia– I Festival Juriti
1994
2º Lugar em poesia– I Concurso de Poesia Falada Jota´s Restaurante Bar
2004
1º Lugar em Poesia– I Concurso Kelps de Poesia Falada
Melhor interpretação– I Cncurso Kelps de Poesia Falada
2005
2° Lugar no Concurso Novos talentos da Fundação Jaime Câmara

TALHE VERBAL

O verbo me talha
fazendo de minha carne território pra sua navalha.

O verbo me bica
(Prometeu atormentado com o frescor renovado de sua ferida).

Me sangra as entranhas
– órgãos em sacrifício –
lacerante ímpeto de amor;

– golpe bruto em minha matéria abrupta –
com afinco me finca
seu monumento à dor.

O verbo
pra brincar de lavrador.
se apropria de meus quintais
O verbo é um trator. Sem nenhum pudor.

Patrola descontrolada vincando estradas
no sem rumo de meu seja lá o que for.

Cadê o silêncio que tava aqui?
O verbo matou.
Verbolor.

Detalhe gráfico e metonímico na capa do livro chama a atenção para o modelo criativo e autêntico da autora Dayse Kênya
Detalhe gráfico e metonímico na capa do livro chama a atenção para o modelo criativo e autêntico da autora Dayse Kênya

Entrevista com a poetisa

DMRevista – Pode nos explicar como decidiu partir de viagem para este mundo de verbos de O Talhe?
Dayse Kênya – Como o livro é um apanhado de várias fases (meus poemas de origem eram longos e narrativos. Atualmente são bem mais concisos, tendendo para a rima e musicalidade. Com forte apelo visual), foi uma forma de dar unidade ao livro. Como uma peça dividida em atos. Abrindo com o verbo duvidar, e passando pelas fases verbais existenciais. Com seu desfecho no verbo morrer.

DMRevista – São estes oito verbos que te inspiram a criar?
Dayse Kênya – Posso dizer que não busco inspiração (entendendo isso como um exercício para escrever). Não tenho esse pragmatismo. Vejo as pessoas fazendo ‘exercícios’ para desenvolver a criatividade. Faz-me rir! Escrever é uma forma de estar viva. E vivenciando as etapas dessa peça, onde somos autores, atores e plateia de nós mesmos.

DMRevista – Em um de seus poemas você diz: “Mal vejo uma folha e pá.. piro!” Podemos dizer que escrever é sua maior loucura?
Dayse Kênya – É. É minha maior dependência. Termino o livro com a frase “…que a poesia seja meu maior apego!” Depois que eu conseguir, no curso natural das coisas, me desfazer de todos os outros! (risos).
DMRevista – Você começou a criar poemas na década de 80, no grupo capitaneado por Pio Vargas? Pode nos contar um pouco sobre como era fazer poesia nesta época?
Dayse Kênya – Na verdade, eu não comecei a escrever porque era da “turma do Pio”. Eu era da turma do Pio porque escrevia. E na época, talvez minha grande influência no escrever tenha vindo do poeta Ubirajara Galli. O Pio teve muita influência, sim, comportamental. Ele era contagiante. O que se poderia chamar de poeta 24h. Sem pose. Sem atitudes de conveniência. Ele respirava poesia em todos os seus atos. Inclusive, eu abro o livro com uma citação do Leminski, que aprendi com ele. Ele vivia repetindo: “Vai vir o dia, quando tudo que eu diga, seja poesia!”.

DMRevista – Além de Pio Vargas e Ubirajara Galli, quais são suas maiores influências na poesia?
Dayse Kênya – Talvez minhas maiores influências estejam na produção dos filósofos. Pois na minha juventude cursei Filosofia, e nunca mais abandonei o hábito da leitura dos filósofos. Sobretudo, Nietzche, Foucaut, Sartre, Sêneca.

DMRevista – Qual é o papel da poesia para você?
Dayse Kênya – É não ter papel. Baudelaire diz que a beleza da poesia está em ser completamente inútil!

Das Duas, Duas
(vem isso e aquilo)

Se é pra falar de poesia
faço sessão extraordinária;
reconvoco minha fome vária
Transformo a letra precária em pura elegia.
Se é pra manchar a brancura do caderno
roubo tinteiros no inferno;
Cometo algazarras bizarras
Na sacrossanta extensão de meu império.
Se é pra falar da alegria do preto do branco
meu semblante é sério.

Vem, poesia!
não faz cerimônia na antessala da agonia.
Vem pichar o muro de minha fortaleza vazia.

Vem isso:
Sem anestesia nem artifício.
Faz de lamber meu fígado nu
Seu grande fetiche – o ofício.

Vem Allan Poe põe tempero!
Põe uma montanha-russa no parque
do meu desespero.

http://www.dm.com.br/revista/2015/07/a-poesia-e-minha-maior-dependencia.html
 
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