terça-feira, 13 de março de 2018

AO PÉ DO INSELBERG




AO PÉ DO INSELBERG

sol radioso de lúgubre secura.
sol causticante no lajedo imune à água.
cabeças-de-frade no torrão seco
instigam cicatrizes de estômagos vazios.

sol raivoso rebrilha na esfoliação esferoidal de pedras.
sol angustiante declina nas cabeças de anjos insones.

seu Zé Lavrador tenta adivinhar
das nuvens, o sustento da lavoura do sertão.
dona Natividade da Silva balbucia em silêncio
a ladainha, a cada conta do seu rosário.

menino, sai daí, menino,
tá vindo a chuva desse verão.

haverá um dia, que voltaremos a ser chão.


Do livro "de arrodeios" (Ed. Amazon, Seattle, 2017):




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